No começo da tarde do dia 12 de novembro, segundo dia do X Seminário Regional de Psicologia e Direitos Humanos e IV Seminário Regional de Psicologia e Políticas Públicas, iniciou a mesa de debates “Direito à Cidade – Megaeventos e Mobilidade Humana”, mediada por Rodrigo Acioli Moura (CRP 05/33761), psicólogo e conselheiro-tesoureiro do CRP-RJ.
Os palestrantes dessa mesa foram José Rodrigues de Alvarenga Filho, doutor em Psicologia e professor do Centro Universitário Celso Lisboa; Marilea Porfilio, doutora em Ciências Sociais pela PUC-SP, coordenadora de Extensão do NEPP-DH, coordenadora do Observatório de Violações dos Direitos Humanos contra a População em Situação de Rua/NEPP-DH, e Luis Antônio dos Santos Baptista, pesquisador do CNPQ e professor do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Psicologia da UFF.
O primeiro palestrante a se apresentar, José Rodrigues, exibiu uma série de vídeos da “Nova Democracia” e da “Frente Independente Popular”, retratando, entre outras, a história dos moradores da comunidade Metrô Mangueira, no Rio de Janeiro, que foram despejados de suas moradias de forma truculenta e sem aviso prévio.
A série de vídeos impactantes ilustrou o contexto que um megaevento esportivo acarreta, segundo explica o professor: “Num contexto de megaevento, vemos essas ações de ‘limpeza’ das populações menos favorecidas, populações de rua e população moradoras das favelas. Com isso, vemos ações como, por exemplo, a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), que transformou nossas favelas em verdadeiros campos de concentração. Gostaria de fazer referência aqui a uma música que diz que ‘paz sem voz, não é paz, é medo’”.
Já Luis Antônio Baptista começou sua fala relembrando um texto do filósofo Theodor Adorno sobre a literatura de Franz Kafka, no qual o pensador fala da angústia que precede o vômito. “Essa angústia da qual Adorno fala, essa angústia que precede o vômito que ele sente ao ler Kafka, é um conceito muito interessante para pensarmos a política atual, que precede essa cidade olímpica”.
E seguiu sua reflexão: “O perigo e o poder da preparação de uma cidade olímpica é muito grande. A cidade maravilhosa, a cidade da beleza natural inebriante, é uma cidade extremamente violenta na realidade. Essa cidade olímpica, como cidade do esporte, como cidade do bem-estar, é uma falácia. Eu avalio que esse projeto de cidade olímpica é fascista e traz um desprezo pela história da rua, pela história da cidade.”
Marilea Porfilio trouxe um olhar mais aprofundado sobre a situação na qual se encontram os moradores em situação de rua em meio a todo esse contexto de preparação da cidade para os megaeventos. “Os moradores em situação de rua são colocados no aparato midiático como seres sem direito à cidade. E, na verdade, na relação da mídia com essa questão, há um grande paradoxo: a mídia visa a trazer visibilidade ao morador de rua, mas ele acaba invisibilizando a partir do momento em que é objetificado. O ‘mendigo’ de agora é o antigo escravo, uma vez que se mantém na posição de objeto, de mercadoria”.
Dezembro de 2015
 
             
               
               
               
               
    
                     
    
                    