Free cookie consent management tool by TermsFeed Generator

auto_awesome

Noticias






Debate sobre “corpos impertinentes” é aplaudido em último dia de Seminário


Data de Publicação: 10 de dezembro de 2015


A mesa de debates “Corpos Impertinentes” iniciou a tarde do último dia do IV Seminário Regional de Psicologia e Políticas Públicas e X Seminário Regional de Psicologia e Direitos Humanos.

As palestrantes foram Vanessa Andrade (CRP 05/28640), psicóloga, mestre em Psicologia pela UFF, criadora e coordenadora do projeto Afrobetizar, Helena Vieira, pesquisadora em Teoria Queer na Universidade Federal de Integração da Lusofonia Afrobrasileira, transfeminista e ativista, e Anahi Guedes de Mello, antropóloga e pesquisadora do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS).

A mediação da mesa ficou por conta de Priscila Gomes Bastos (CRP 05/33804), psicóloga e conselheira-presidente da Comissão Regional de Psicologia e Políticas Públicas do CRP-RJ.

Priscila Bastos abriu a mesa problematizando que “corpos impertinentes são aqueles que não têm espaço na cidade ou têm um espaço muito bem marcado de forma perversa. Geralmente, são corpos ‘matáveis’, mas que existem e resistem”.

A seguir, passou a fala para Helena Vieira, que destacou que a orientação sexual e a identidade de gênero dos indivíduos são o resultado de um constructo social e que, portanto, não existem papéis sexuais essenciais ou biologicamente inscritos na natureza humana.

“A noção de corpo pensado através de uma dicotomia, seja ela corpo versus alma, corpo versus mente ou corpo versus razão, traz implícita uma ideia de corpo como algo menor, de segunda ordem. Temos que desconstruir essa dicotomia e pensar no corpo como construção, não como algo natural somente”, afirmou Helena.

“O corpo impertinente é sempre um corpo objeto, são os corpos que escapam à norma, como é um corpo trans. E a existência daquilo que escapa à norma, a desestabiliza”. Dessa forma, a sociedade lida de forma negativa com o corpo da mulher e do homem trans justamente porque eles desestabilizam a ordem e a norma vigente, causando ódio e repulsa, mas também desejo e curiosidade”, explicou.

Vanessa Andrade, por sua vez, propôs a reflexão sobre o “corpo impertinente” negro, que, assim como o corpo trans, é considerado um corpo ‘matável’ pela sociedade em geral e pela mídia.

Por essa condição historicamente enraizada, que remete à época da escravatura. “O corpo impertinente preto é um corpo sempre à espreita. Esse corpo nunca está numa condição de conforto, está sempre em estado de alerta e atenção. O corpo que tomba é um corpo preto, como já cantava Elza Soares: ‘a carne mais barata do mercado é a carne negra’. Desse corpo matável, é retirada toda sua potência de afirmação. Até porque, quando esse corpo preto realiza sua potência, se torna um corpo que incomoda”.

Vanessa também ponderou que “o conflito entre a reatividade e a produção da vida é muito forte em nós, corpos impertinentes. Não podemos operar somente no campo da reatividade que nos endurece e empobrece. A resistência é de suma importância e é conseguida com a reatividade, mas também com afirmação e produção de vida. O Afrobetizar é o meu espaço de produção de vida. É um projeto que tem o propósito de legitimar nosso corpo como espaço de afirmação e valorização da negritude”.

A última palestrante da mesa, Anahí Guedes de Mello, problematizou a definição de deficiência que comumente circula na nossa sociedade. “A deficiência não se encerra no corpo, ela consiste no produto da relação entre um corpo com determinados impedimentos de natureza física, intelectual, mental ou sensorial e um ambiente incapaz de acolher as demandas arquitetônicas, informacionais, programáticas, comunicacionais e atitudinais que garantem condições igualitárias de inserção e participação social”.

Segundo ela, todos os indivíduos em alguma instância são deficientes. “Porém, os supostos deficientes em relação à norma vigente são também encarados como ‘corpos impertinentes’, pois escapam ao que é considerado ‘normal’”, argumentou.

Anahí apresentou também a “Teoria Crip”, que, segundo ela, “almeja, dentre outras coisas, uma posição analítica crítica com relação à materialidade fixa do corpo deficiente, chamado em inglês disabled body, como independente do processo em que tal materialidade é necessária para a produção de corpos capazes, hábeis e eficientes”.

Debate sobre “corpos impertinentes” é aplaudido pelo público no último dia do Seminário de Psicologia, Direitos Humanos e Políticas Públicas

A mesa de debates “Corpos Impertinentes” iniciou a tarde do último dia do IV Seminário Regional de Psicologia e Políticas Públicas e X Seminário Regional de Psicologia e Direitos Humanos.

As palestrantes foram Vanessa Andrade (CRP 05/28640), psicóloga, mestre em Psicologia pela UFF, criadora e coordenadora do projeto Afrobetizar, Helena Vieira, pesquisadora em Teoria Queer na Universidade Federal de Integração da Lusofonia Afrobrasileira, transfeminista e ativista, e Anahi Guedes de Mello, antropóloga e pesquisadora do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS).

A mediação da mesa ficou por conta de Priscila Gomes Bastos (CRP 05/33804), psicóloga e conselheira-presidente da Comissão Regional de Psicologia e Políticas Públicas do CRP-RJ.

Priscila Bastos abriu a mesa problematizando que “corpos impertinentes são aqueles que não têm espaço na cidade ou têm um espaço muito bem marcado de forma perversa. Geralmente, são corpos ‘matáveis’, mas que existem e resistem”.

A seguir, passou a fala para Helena Vieira, que destacou que a orientação sexual e a identidade de gênero dos indivíduos são o resultado de um constructo social e que, portanto, não existem papéis sexuais essenciais ou biologicamente inscritos na natureza humana.

“A noção de corpo pensado através de uma dicotomia, seja ela corpo versus alma, corpo versus mente ou corpo versus razão, traz implícita uma ideia de corpo como algo menor, de segunda ordem. Temos que desconstruir essa dicotomia e pensar no corpo como construção, não como algo natural somente”, afirmou Helena.

“O corpo impertinente é sempre um corpo objeto, são os corpos que escapam à norma, como é um corpo trans. E a existência daquilo que escapa à norma, a desestabiliza”. Dessa forma, a sociedade lida de forma negativa com o corpo da mulher e do homem trans justamente porque eles desestabilizam a ordem e a norma vigente, causando ódio e repulsa, mas também desejo e curiosidade”, explicou.

Vanessa Andrade, por sua vez, propôs a reflexão sobre o “corpo impertinente” negro, que, assim como o corpo trans, é considerado um corpo ‘matável’ pela sociedade em geral e pela mídia.

Por essa condição historicamente enraizada, que remete à época da escravatura. “O corpo impertinente preto é um corpo sempre à espreita. Esse corpo nunca está numa condição de conforto, está sempre em estado de alerta e atenção. O corpo que tomba é um corpo preto, como já cantava Elza Soares: ‘a carne mais barata do mercado é a carne negra’. Desse corpo matável, é retirada toda sua potência de afirmação. Até porque, quando esse corpo preto realiza sua potência, se torna um corpo que incomoda”.

Vanessa também ponderou que “o conflito entre a reatividade e a produção da vida é muito forte em nós, corpos impertinentes. Não podemos operar somente no campo da reatividade que nos endurece e empobrece. A resistência é de suma importância e é conseguida com a reatividade, mas também com afirmação e produção de vida. O Afrobetizar é o meu espaço de produção de vida. É um projeto que tem o propósito de legitimar nosso corpo como espaço de afirmação e valorização da negritude”.

A última palestrante da mesa, Anahí Guedes de Mello, problematizou a definição de deficiência que comumente circula na nossa sociedade. “A deficiência não se encerra no corpo, ela consiste no produto da relação entre um corpo com determinados impedimentos de natureza física, intelectual, mental ou sensorial e um ambiente incapaz de acolher as demandas arquitetônicas, informacionais, programáticas, comunicacionais e atitudinais que garantem condições igualitárias de inserção e participação social”.

Segundo ela, todos os indivíduos em alguma instância são deficientes. “Porém, os supostos deficientes em relação à norma vigente são também encarados como ‘corpos impertinentes’, pois escapam ao que é considerado ‘normal’”, argumentou.

Anahí apresentou também a “Teoria Crip”, que, segundo ela, “almeja, dentre outras coisas, uma posição analítica crítica com relação à materialidade fixa do corpo deficiente, chamado em inglês disabled body, como independente do processo em que tal materialidade é necessária para a produção de corpos capazes, hábeis e eficientes”.

 

Dezembro de 2015