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Segundo debate sobre crianças de rua é realizado na UFF


Data de Publicação: 20 de julho de 2006


Dando continuidade ao evento “Crianças de rua, crianças de ninguém: Análise política e possibilidades de intervenção”, aconteceu na Universidade Federal Fluminense (UFF), na última terça feira, dia 18, a segunda palestra do psicólogo, pedagogo e filósofo espanhol, Enrique Martinez Reguera, no Rio de Janeiro. O evento, que é uma parceria do CRP-RJ, da UFF e do Instituto Carioca de Criminologia, tinha como objetivo debater a situação de crianças e jovens vistos como “excluídos”.

A conselheira do CRP-RJ, Cecília Coimbra, abriu a mesa e falou sobre a importância das ações relativas à criança e ao adolescente, citando o relatório lançado pelo CFP em parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sobre a Inspeção Nacional às Unidades de Internação de adolescentes em conflito com a lei, que foi distribuído aos presentes. Em seguida, Fernanda Bocco, uma das organizadoras do evento, apresentou Reguera, que trabalha há 40 anos com crianças e jovens espanhóis.

Enrique Reguera iniciou a palestra destacando que há seis idéias principais com relação ao trabalho com as chamadas “crianças de rua”. A primeira delas é a definição da natureza do problema. Segundo ele, a questão das crianças de rua já foi enquadrada como um problema ético, psicológico, biológico, e, por fim, como social. Por essa razão, ele começou a se perguntar o que realmente acontece com essas crianças e descobriu que a resposta era simples: falta de carinho. Segundo ele, “não adianta apenas levar um menino que acorda de madrugada com dor de dente ao dentista; é preciso também que a mãe cuide dele com amor. Ou seja, o problema é muito mais amplo do que os aspectos multidisciplinares. Tem a ver com aspectos que nenhuma ciência estuda, os aspectos pessoais”.

Foto do público de evento realizado na UFF.

Público do evento realizado na UFF.

A segunda idéia principal é que tudo no mundo se relaciona de alguma forma. Assim, acha absurdo alguém dizer que uma criança “não tem remédio”, pois seria o mesmo que afirmar que ele próprio também não o tem, já que entre ele e uma criança, cada um representa 50% da relação. Segundo Reguera, adultos as crianças possuem sistemas de vida diferentes e ambos os lados devem mudar para juntos encontrarem um sistema relacional em que todos estejam felizes. “Tenho percebido que na maior parte das vezes, quem tem que mudar sou eu. Vendo minha capacidade de mudar, os meninos se sentem seguros para mudar também. O problema das instituições espanholas é que elas tentam obrigar os meninos a viverem segundo o sistema delas. Por isso, a primeira coisa que eles fazem é fugir”, afirmou.

A terceira idéia é que a parte mais importante do trabalho com as crianças é a significação que ele tem para elas. “A vida desses meninos se assemelha a um naufrágio. Sou um tronco de árvore no qual eles podem se apoiar”, destacou. Segundo o psicólogo espanhol, é importante aproveitar os momentos mais significativos na vida das crianças. “Se elas vão para a delegacia ou para um hospital, sou o primeiro a chegar para ficar com elas”.

A quarta idéia principal para Reguera é estar preparado para ser visto em um primeiro momento como um inimigo, mesmo tendo boa vontade. Isso acontece porque ele e as crianças vêm de mundos diferentes. No primeiro bairro em que trabalhou, ele queria transmitir a cultura que ele havia recebido, tentando ensinar filosofia para crianças que nem iam à escola. “Eu era visto como um alienígena, que tinha vindo de uma infância feliz, sem ter passado fome, com carinho dos pais e cultura, coisas que eles não tinham. Eu queria ajudar, mas continuava vivendo bem e eles, mal. Somos a parte privilegiada dessa situação bélica”.

A quinta idéia principal é a importância de uma rede de profissionais que se engajem na questão. “Trabalhar com esses meninos traz problemas psicológicos, sociais e com a justiça, entre outros. Por isso, é preciso um trabalho em equipe, com advogados, médicos, juízes etc. Ou seja, formar um tecido social em torno da criança”.

A sexta e última idéia apresentada por Reguera é a importância de não tentar “afogar” a rebeldia das crianças, mas cultivá-la, para que seja uma rebeldia lúcida, crítica. “As crianças me converteram em um rebelde, me ensinaram a ter outra visão da política e da sociedade. O que sei de mais importante hoje na minha vida, foram eles que me ensinaram”, concluiu.

Texto: Bárbara Skaba

20 de julho de 2006