Aconteceu, no dia 12 de março, na cidade de Petrópolis, o 3º Pré-Congresso Regional de Psicologia da Região Serrana do Rio de Janeiro. Com grande participação de psicólogas (os) e estudantes de Psicologia, o evento foi realizado no auditório da Universidade Estácio de Sá de Petrópolis.
Abrindo o evento, a psicóloga e colaboradora da Comissão Gestora do CRP-RJ na Região Serrana Victoria Antonieta Tapia Gutiérrez (CRP 05/20157) destacou a importância de profissionais e estudantes mobilizarem-se para participar ativamente das atividades promovidas pelo Conselho na região.
Mesa de debates
Em seguida, antes da instalação do Pré-Congresso, teve início a mesa de debates sobre “Psicologia Clínica, Laicidade e Direitos Humanos”, que contou com participação de José Henrique Lobato Viana (CRP 05/18767), psicólogo e conselheiro da Comissão de Orientação e Ética do CRP-RJ, Fabiane de Souza Vieira (CRP 05/28527), psicóloga do Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos (CEPLIR), e Júlio César Collares da Rocha (CRP 05/29845), professor de Psicologia na Universidade Católica de Petrópolis (UCP).
José Henrique iniciou sua fala sublinhando que a Psicologia é uma ciência e uma profissão laicas e citou o Código de Ética Profissional da Psicologia, que veda a (o) psicóloga (o) de quaisquer práticas que afirmem intolerância e/ou desrespeito de natureza religiosa.
O conselheiro do CRP-RJ destacou que o conceito de laicidade remonta ao século XIX como um princípio em que reside a separação dos poderes político e religioso. Segundo ele, “é preciso apresentar e debater esse conceito mais frequentemente junto aos psicólogos”.
Ainda de acordo com José Henrique, quando se afirma a laicidade da Psicologia, “em nenhum momento, estamos dizendo que o psicólogo não pode ter sua religião nem professar sua fé. Mas é preciso compreender as limitações éticas relacionadas a essa questão no exercício da profissão”.
Fabiane, por sua vez, falou sobre a prática clínica ligada à liberdade religiosa. A psicóloga mencionou “o sofrimento das pessoas que, vítimas de intolerância religiosa, tiveram sua pertença religiosa ferida”, destacando que o que se percebe a partir do atendimento a essas pessoas “é que a intolerância religiosa têm efeitos psicossociais graves no sujeito”.
Ela disse também que, no Brasil, só se começou a discutir efetivamente o direito à liberdade religiosa a partir da ECO 92 e, a seguir, enfatizou a importância da atuação do CEPLIR.
“O Rio é o primeiro estado do Brasil a pensar e criar um equipamento destinado a pessoas que foram violadas em sua liberdade religiosa, o CEPLIR. Essa demanda acontece a partir da sociedade civil em conjunto com organizações de Direitos Humanos, que, em 2008, cobraram do Estado um equipamento em que pessoas vítimas de intolerância religiosa pudessem contar com assessoria jurídica, atendimento psicológico e acompanhamento de assistentes sociais”.
Por fim, Júlio César exortou as (os) psicólogas (os) a pensarem como, em sua prática, está inserida a questão da defesa dos Direitos Humanos. Ele afirmou também que a (o) psicóloga (o) não pode ignorar a dimensão religiosa do sujeito atendido.
“O paciente muitas vezes leva para o consultório uma religião, ele leva um Deus para falar sobre, e você, como profissional de Psicologia, não pode impedi-lo de falar a respeito. No entanto, você, como profissional, deve estar apto a fazer uma distinção junto a seu paciente: a realidade e a realidade em si. A religião de nosso paciente precisa ser levada em consideração como realidade psíquica. Quando um paciente fala de Deus, não estou interessado em saber se Deus existe ou não: mas eu preciso saber qual a influência de Deus para aquela pessoa, como ele representa Deus e como Deus é representado na realidade daquela pessoa”, defendeu.
O professor da UCP levantou, ainda, a polêmica questão das (os) psicólogas (os) que se auto intitulam “profissionais religiosos”. “Quando você se auto intitula um psicólogo religioso, você está gerando um problema para sua prática clínica: o paciente pode acabar induzindo sua própria fala no sentido de trazer mais elementos religiosos para a terapia. Quando você se diz um psicólogo religioso, você gera expectativas naquele sujeito e acaba focalizando a fala de seu paciente. Isso, sem dúvidas, pode atrapalhar o processo terapêutico”.
Votação de propostas e eleição de delegadas (os)
Ao término do debate, teve início o Pré-Congresso com a eleição da mesa diretora para conduzir os trabalhos do evento. Após a leitura e aprovação do Regimento Interno do Pré-Congresso, teve início a eleição de delegadas (os) para o Congresso Regional de Psicologia (COREP), que acontecerá no Rio de Janeiro entre 29 de abril e 1º de maio. Foram eleitas (os) nove delegadas (os) efetivos e mais um suplente, além de dois delegados estudantes, um efetivo e outro suplente. Em seguida, as (os) participantes reuniram-se para elaborar, debater e votar propostas para o COREP. Ao todo, foram aprovadas com modificações sete propostas.
A Região Serrana do Rio de Janeiro receberá ainda seu 4º e último Pré-Congresso no dia 1º de abril (6ª feira) no município de Carmo. Se você reside ou atua na região e não pode comparecer nos outros Pré-Congressos, agende-se para participar do último encontro!
