Texto escrito por membros da Comissão de Estudantes do CRP-RJ na Região Serrana*.

Foto de Francyne Andrade
No dia 8 de junho, foi realizada, em Petrópolis, a Roda de Conversa “A reforma da Loucura: a saúde mental é a questão?”, evento que fechou a agenda de atividades comemorativas do Dia da luta Antimanicomial promovida pela Comissão Gestora do CRP-RJ na Região Serrana.
A roda de conversa teve como palco o charmoso Palácio de Cristal, em Petrópolis, e contou com a participação de facilitadores, atuantes da área da saúde, como Ronaldo de Oliveira Marinho (CRP 05/4424), psicólogo na Secretaria de Saúde de Petrópolis, coautor e coordenador do projeto de implantação e funcionamento do CAPS- Nise da Silveira, supervisor da equipe de estagiários de Psicologia do Ambulatório Central de Saúde Mental, Psicoterapeuta em ambulatório público e consultório particular; o psiquiatra Ney Helou, especialista em Psiquiatria Clínica e psiquiatria da adolescência no IP/UFRJ e formado em psicoterapia existencial; a assistente social Cidnea Maria Esteves Moutinho, profissional na área da saúde mental, coordenadora dos Serviços de Residência Terapêutica no município de Petrópolis; e o enfermeiro Osvaldo Alberto Filho, graduado pela UCP, especialista em Saúde Pública pela Fiocruz, em Auditoria e Regulação em Sistemas de Saúde pela Fundação São Camilo, em Preceptoria no SUS pela Fundação Hospital Sírio Libanês, e em Gestão em Saúde pela Fiocruz.
O evento reuniu um público de mais de 70 pessoas em plena tarde de sexta-feira. Com o objetivo de provocar o público, os levando a refletir sobre a Reforma Psiquiátrica e a Luta Antimanicomial, os palestrantes apresentaram questões pertinentes e significativas de suas atuações e perspectivas acerca do porquê da importância da Luta Antimanicomial ainda hoje, no presente, mesmo depois de tantos anos do início da Reforma Psiquiátrica.

Foto de Francyne Andrade
Com o relato dos palestrantes apontando as dificuldades encontradas no cenário da atuação profissional, foram observados também retrocessos ainda presentes no cenário político nacional. Como exemplificação do retrocesso, pode ser destacado o projeto de lei 7200/2017, que estipula o direcionamento de incentivos fiscais e financeiros pelo Governo Federal às chamadas Comunidades Terapêuticas, espaços voltados à reabilitação de usuários de drogas que fazem uso de “técnicas terapêuticas” que nos remetem ao modelo manicomial e institucionalizante.
É importante ter em mente a diferença entre Comunidade Terapêutica e o Serviço de Residência Terapêutica. Como também abordado no evento, o Serviço de Residência Terapêutica é um dos dispositivos da Reforma Psiquiátrica, presente na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e que visa a reinserir as pessoas que ficaram reclusas por dois anos ou mais em hospitais psiquiátricos e não possuem suporte para retornar ao ambiente de seus familiares – conforme explicado pela palestrante Cidnea Moutinho.
Diante de todas as falas, foi possível observar uma união de olhares multidisciplinares que, atualmente, aderem ao movimento que se ampliou a partir do questionamento sobre as medidas até então adotadas com as pessoas em sofrimento psíquico dentro dos hospícios. É notável que esta multidisciplinaridade não se limita ao cenário da atuação, mas, também, vem recolhendo integrantes para a participação desta Luta em prol de melhor qualidade de vida para os que, por tantos anos, foram e ainda são marginalizados.
Outra aspecto interessante do evento foi ter ocorrido em um ponto turístico de Petrópolis, possibilitando o acesso de pessoas diversas que, não necessariamente, possuem aproximação com o tema. Houve, durante o encontro, a participação momentânea de turistas, estudantes do Ensino Médio e de diversos cursos superiores e também de profissionais da área da Saúde.
“Iniciativas como essa são importantes para mostrar que a Luta Antimanicomial não é e não pode ser uma luta de classes. Eu mesmo espantei e me surpreendi com a colocação de todos. Como disse, só o CRP-RJ tem e teve a coragem de propor um discussão com esse nível de interdisciplinariedade. Parabéns ao CRP de Petrópolis”, considerou Ronaldo Marinho.
*Escreveram o texto os seguintes integrantes da Comissão de Estudantes do CRP-RJ na Região Serrana: Fanuel Candido Glanzmann, Julia de Oliveira Queiroz Mury, Larissa Pereira Decoló, Mayara da Rocha Lima, Pâmela Mendonça Teixeira de Brito e Vanessa Jabour Moreira Rodrigues.