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Psicologia e Relações Raciais é tema de debate na Baixada


Data de Publicação: 7 de dezembro de 2018


A 30ª edição do “Rodas e Encontros”, ocorrida no dia 28 de novembro no auditório da Subsede do CRP-RJ na Baixada Fluminense, teve como temática “Relações Raciais em Tempos de Desafios”. O evento, promovido no mês em que se é lembrado o Dia da Consciência Negra, foi organizado pela Comissão Gestora da Subsede em parceria com o Coletivo de Psicólogas (os) Pretas (os) da Baixada.

A Conselheira-coordenadora da Comissão Gestora do CRP-RJ na Baixada, Mônica Sampaio (CRP 05/44523) abriu o debate explicando que o evento era preparatório para o 10º Congresso Regional da Psicologia do Rio de Janeiro (COREP), que acontecerá entre 5 e 7 de abril de 2019 no Rio de Janeiro para votar propostas de ações para o CRP-RJ e o CFP até 2022.

A roda foi mediada pela colaboradora do CRP-RJ Vanda Vasconcelos Moreira (CRP 05/6065) e contou com a participação de Manoel Leôncio (CRP 05/55716), psicólogo e membro da Comissão Organizadora do Coletivo de Psicólogos Pretos da Baixada, que destacou a importância do espaço para, segundo ele, “falar de diferença, diversidade, do respeito a essas diferenças, mas que ainda não podemos falar da igualdade, porque ela não está acontecendo”.

baixada racismoEle citou a psicóloga e escritora brasileira Ecléa Bosi ao falar sobre construção de memórias e a escrita da história, alertando para o que chamou de “Reflexão dos micro-comportamentos”, dando como exemplo, o livro de Ecléa, “O tempo Vivo da Memória: Ensaios da Psicologia Social”. “Ela traz essa reflexão, de você valorizar o mínimo para se construir memória, de você valorizar as falas, as entrelinhas. As pessoas que conversam de uma janela para outra, elas dividem a história e essas pessoas não são ouvidas, essas falas, essas vivências, elas não são olhadas de maneiras sensíveis”, completou.

O debate prosseguiu com o psicólogo e assessor de Participação Social e Equidade da Secretaria de Estado de Saúde, Celso Moraes Vergne (CRP 05/27753), que falou sobre o que chamou de “Psicologia branca”, questionando: “como conseguimos cuidar de gente, se não conseguimos pensar que essa pessoa tem um corpo e uma história marcados pela cor?”.

Segundo, Celso, é comum receber queixas de “pessoas que chegam ao consultório e, quando vão relatar a questão racial, escutam que aquilo não é real, que é uma questão interna ou que simplesmente – o que eu escutei durante todo meu doutorado – que psiquismo não tem cor. Bom, se psiquismo não tem cor, ao menos podemos pensar que psiquismo tem corpo. Acho complexo pensar a ‘psiqué’ a partir de uma concepção de alma transparente”.

Ana Alice Teixeira, médica com atuação em Saúde Pública e em movimentos sociais, também integrou a roda de debate e questionou a forma com que a história é contada. Segundo ela, “é sempre a história dos vencedores, nunca a nossa – do povo brasileiro em sua maioria negros –, é a história que a classe dominante, os poderosos, os donos do capital escrevem para a gente”.

A médica falou também sobre o elitismo nas universidades, em especial, na formação de medicina. “A formação da Escola de Medicina é extremamente elitista, mudou um pouco com a questão das cotas e incentivos, mas ainda é muito elitizada”.

Jean Vinícius Costa de Oliveira, ativista em HIV/AIDS, Direitos Humanos, Juventude Negra e mobilizador social no projeto da FIOCRUZ de apoio ao desenvolvimento de ações em saúde para a comunidade carcerária com foco em tuberculose, compartilhou um pouco da sua experiência e instigou as (os) psicólogas (os) presentes a “entender que os seus eventuais pacientes negros e negras vão trazer uma série de demandas relativas ao racismo e que elas precisam ser trabalhadas como algo estrutural e não como algo de fórum intimo”.

Citando os pacientes portadores de HIV/AIDS, Jean defendeu que é preciso “pensar em medidas que possam trabalhar a autonomia e garantia da dignidade desse individuo na relação paciente e profissional”. Ele destacou, também, a importância da atuação psi na identificação de pacientes com HIV/AIDS através da testagem. “Vocês podem estimar a testagem, ela é importante porque ela interrompe o processo inflamatório e inviabiliza outras infecções. Hoje já ficou evidente que uma pessoa com carga viral, indetectável, não transmite HIV”.



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