O CRP-RJ, por meio da sua Comissão Gestora na Baixada Fluminense e em parceria com o Centro de Direitos Humanos (CDH) de Nova Iguaçu, promoveu, no dia 30 de abril, na Subsede de Nova Iguaçu, a 5ª edição do Seminário Violências contra a Mulher e Políticas Públicas – “O impacto da banalização nas mídias e a omissão do Estado”.
O evento é fruto de uma parceria estratégica entre o CRP-RJ, o CDH e outras instituições ligadas à luta pela defesa dos Direitos Humanos na Baixada, que têm buscado, por meio dessa mobilização em rede, promover mensalmente eventos e ações na região para ampliar a visibilidade sobre a importância dessa luta na defesa das populações excluídas e minorizadas.

Gabriela Braz inicia o evento
O encontro foi aberto pela psicóloga e colaboradora da Comissão Gestora Gabriela de Araújo Braz dos Santos (CRP 05/56462), que lembrou que o evento estava sendo realizado na mesma data em que se comemora o “Dia da Baixada Fluminense”.
“Gostaria de ler para vocês uma mensagem que recebemos do Fórum Grita Baixada. ‘Essa data de 30 de abril é alusiva à inauguração da primeira estrada de ferro construída no Brasil, em 1854, que ligava o porto de Mauá à região de Fragoso, em Magé. Essa data se formaliza na Baixada, a partir da aprovação do projeto de lei número 3.822 de 2 de maio de 2002’. Então, hoje é um dia para se comemorar a importância dessa região, que não é só violência, mas é também potência, afeto, vínculo”, afirmou.
Mônica Valéria Affonso Sampaio (CRP 05/44523), conselheira-coordenadora da Comissão Gestora do CRP-RJ na Baixada, iniciou a mesa de abertura lembrando que a mulher é vítima de diversas manifestações de violência, não apenas física ou sexual. A conselheira do CRP-RJ também apontou dados alarmantes sobre o cenário de violências contra a mulher.
“A cada minuto, nove mulheres foram vítimas de algum tipo de agressão em 2018. Para além disso, tivemos, também em 2018, um estupro a cada nove minutos. Em média, 13 mulheres são assassinadas por dia no Brasil. O quadro é mais alarmante ainda se pensarmos que esses dados, por mais confiáveis que sejam, ainda são subnotificados”, revelou ela.
Larissa Chamarelli (CRP 05/54233), psicóloga do Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu, deu continuidade à mesa de abertura falando sobre a criação do CDH em pleno auge da ditadura civil-militar brasileira como “instituição que sempre buscou trabalhar em favor da garantia dos direitos humanos das minorias”.
“Entendemos que os casos de violação de direitos humanos que aparecem na mídia não correspondem nem a um terço do que realmente acontece. Por isso, nosso trabalho é também fazer a divulgação desses casos, porque a informação pode salvar vidas”, disse ela.

Mesa de abertura do evento
Leci Carvalho, pedagoga, militante feminista e representante do Fórum de Mulheres da Baixada, destacou a atuação do Fórum nos 13 municípios da região. “Atuamos em um território bem específico que é a Baixada Fluminense. É muito diferente falarmos de violência nesse território pois os números são alarmantes na Baixada. Os números que compõem hoje o mapa da violência estão localizados, em sua maioria, nesse território. Por exemplo: Duque de Caxias é o primeiro lugar de violência contra mulher, seguido de Nova Iguaçu, Belford Roxo e Queimados”, reiterou.
Encerrando a mesa inicial, Vanda Vasconcelos Moreira (CRP 05/6065), representante do Sindicato dos Psicólogos, destacou o papel do SINDPSI na mobilização contra a violência contra a mulher na Baixada. “O Sindicato faz parte dessa luta”, pontuou. “Percebemos, no dia a dia, o quanto a situação da mulher é difícil nas relações com a mídia, com a família, com a comunidade, no trabalho. Não podemos nos silenciar diante de uma situação de opressão contra a mulher, precisamos nos indignar”, defendeu.
MESA DE DEBATES
O debate foi mediado por Jacqueline dos Santos Soares (CRP 05/41408), colaboradora do CRP-RJ e membro da Comissão Gestora da Subsede Baixada, e foi aberto por Sônia Ambrozino (CRP 05/22558), psicóloga, doutora em Psicologia Social pela UERJ, professora e supervisora de estágio no curso de Psicologia da Universidade Estácio de Sá de Nova Iguaçu.
“No combate à violência exercida sobre as mulheres, penso que, antes de tudo, será preciso pensar na família, pois é onde incidiu diretamente todo o histórico do patriarcado brasileiro, que é – poderíamos dizer – o pai do machismo. É em casa que uma criança, seja ela menino ou menina, aprende o que é certo ou errado”, problematizou a palestrante.

Mesa de debates
“Eu queria fazer uma provocação: ‘que tipo de educação nós, mulheres, passamos aos nossos filhos?’. Nós, mulheres, educamos nossos meninos e meninas muitas vezes para o machismo, mesmo sem perceber. Todas as vezes que atribuímos tarefas às meninas e não aos meninos, quando deixamos os meninos saírem e namorarem e as meninas não, já estamos criando, neles, padrões de relações e comportamentos”, explicou a professora da Estácio de Sá.
Seguindo com o debate, Carolina Santos Victorino (CRP 05/56788), psicóloga, pós-graduanda em Terapia Cognitivo-Comportamental que atua em Serviço de Saúde Mental e estudos voltados a relações etnicorraciais, gênero e sexualidade, chamou atenção para o fato de que “a violência contra a mulher é uma das maiores e mais comuns violações de direitos humanos e, apesar disso, é uma das que têm menos resoluções por parte do poder público”.
A psicóloga apontou que existem vários tipos de violência contra a mulher, entre elas a moral, a patrimonial, a psicológica, a sexual e a física. “A violência contra a mulher pode se manifestar de diversas maneiras, geralmente ligada à violência de um homem contra uma mulher, mas é importante pensar que ela está ligada a um sistema hierárquico, que tem a ver com a manutenção de poder, status e lugar social”, destacou.
Carolina Victorino exibiu também dados do Mapa da Violência contra a Mulher – 2018. Conforme apresentou, em 2018, “uma em cada quatro mulheres foi vítima de violência. A cada 17 minutos, uma mulher é agredida no Brasil. Toda a semana, 33 mulheres são assassinadas por parceiros, antigos ou atuais. Segundo a ONG Human Rights Watch, há uma epidemia de casos de violência doméstica no Brasil”.